Recentemente comecei a estudar sobre a Teoria do Jogos. Para os que não ouviram falar, trata-se de uma teoria matemática que tem por finalidade buscar um modelo que se aplique ao fenômeno da interação entre dois ou mais sujeitos, envolvidos num processo de tomadas de decisões conscientes.
Para algo ser considerado um jogo é necessário a existência dos jogadores, das estratégias, das recompensas e do conhecimento comum entre os participantes acerca das regras.
Mas na verdade, o motivo deste post refere-se ao que se considera o jogador "irracional". As aspas se devem ao fato de que a priori nenhuma estratégia é considera irracional. Mas há o jogador considerado irracional, pois é aquele que não respeita as próprias preferências, talvez por que nem ele tenha claro em dada altura, quais são seus reais interesse num processo de disputa. Observa-se uma incongruência entre o que se quer e o que se faz. O contraponto seria o jogador racional, que faz escolhas com a finalidade de consecução de seus reais interesses.
Quantas não são as situações em que nós ou aqueles com os quais estamos em disputa assumem uma estratégia irracional? Seja no campo social, familiar, afetivo ou profissional, o fato é que isto é corriqueiro.
Talvez a dificuldade esteja em reconhecer que, por trás do comportamento do nosso jogador irracional existam motivações de natureza irracional que não necessariamente tenham nexo de causalidade com a parte contrária naquele jogo específico. Mágoas, ressentimentos, traumas e toda a sorte de sentimentos e experiências que de alguma maneira nos marcam podem e de fato afetam a maneira como estabelecemos nossas estratégias. Estes engrams modulam a nossa reatividade frente a situações de disputa. Conscientemente ou não, tais comportamentos nos impelem focar nossa disputa numa posição ao invés de nos nossos próprios interesses. Passa a ser mais importante como eu afetarei a posição do outro (emocional, financeira, social, etc.), do que qualquer estratégia que possa ser mais eficaz para atingir meus resultados.
Ao outro, se bom jogador, cabe a possibilidade de perceber o contexto e desenvolver uma estratégia na qual promova a busca cooperativa de solução.
Numa mediação esta percepção é uma ferramenta poderosa, a medida que nos instrumentaliza a fazer com que a parte possa se apropriar de seus próprios interesses e assim, estabelecer estratégias mais racionais e eficientes.
Cabe anotar que de maneira alguma considero algum tipo de hierarquia entre a considerada racionalidade versus a irracionalidade. Mas, a depender da situação, a maneira como a irracionalidade emerge pode prejudicar o indivíduo.
É um equívoco menosprezar uma teoria que por sua natureza pode ser, levianamente, considerada de pouca aplicação à compreensão do comportamento humano. Ao contrário, traz elementos valiosos ao entedimento de como as pessoas decidem por uma estratégia de relacionamento mais ou menos cooperativo. Para quem se interessar, vale pesquisar sobre o dilema do prisioneiro.
