Ouvi numa conversa de bar (que se deu num restaurante), uma namorada dando um esporro (para além do possível significado chulo, adoro a sonoridade da palavra) no pobre(?) namorado, pois ele, na visão dela, deveria fazê-la mais feliz. Confesso que me esforcei para manter a cara de paisagem, mas internamente sentia um misto de graça e inquietude com tal colocação.
Para além de possíveis hipóteses clínicas, meditei acerca da idéia em si. Sua fala trazia um desejo expresso na forma de um comando de algo idealizado, pois ele “deveria fazê-la”. Aqui já começa o enrosco, pois o desejo é dela, mas o dever é dele, ou em outras palavras, deveria ele então ser o servo dos desejos dela? Obviamente que, como compartilhávamos a mesa, refeição e a conversa, não pude deixar de, obviamente provocativamente, lhe perguntar o que será que ela então deveria fazer para que ele também fosse feliz.
Outro ângulo é considerar a responsabilidade, para não dizer o peso que ela pretende que ele carregue, e por isto a referência à sua pobreza no primeiro parágrafo. Convenhamos! Se lá fosse algo mais concreto como “quero acordar todos os dias com você me trazendo café na cama”, ou “você deve todas as noites me presentear com flores” etc. Mas não. ela simplesmente quer a felicidade, aquela coisa pouco subjetiva que pode significar desde uma gota d’água até um passeio num ônibus espacial. Se há algo que não podemos dizer é que nossa amiga não é ambiciosa. Mais do que ser feliz, ela julga que o namorado é o responsável por tal empreitada.
Brincadeiras à parte fiquei um pouco impressionado com uma perspectiva de felicidade, aparentemente sem graça por insinuar que a felicidade dela é algo estático. Antes fosse extático...
Mas o que mais impressiona é está leviandade, talvez pueril de acreditar que o outro pode ser responsável por algo que cabe somente a nós. Antes que atirem as pedras por conta da minha aparente insensibilidade e egoísmo, minha verdadeira falta de altruísmo e desapego, digo que no limite acredito que o outro (no sentido de tudo aquilo que não sou eu) possa contribuir com a minha percepção de felicidade. Neste caso considero sim que, entre outras coisas, a felicidade tem um protagonista e infinitas possibilidades de coadjuvantes. Até acredito em co-protagonismo. Mas acho que transferir ao outro esta responsabilidade é a mesma coisa que jogar na mega-sena esperando ter como prêmio a felicidade.
(No fundo não acho que ele seja um coitado! Ao contrário, por algum motivo e por escolha ele aceita ficar neste lugar).
sábado, 11 de junho de 2011
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