terça-feira, 21 de maio de 2013

Vicktor Frankl, um gigante!

Para quem não o conhece, austríaco de origem judaica, formado em psiquiatria e neurologia, Vicktor Frankl trocou correspondências com Freud, que publicou alguns dos seus trabalhos. Afasta-se da psicanálise para se aproximar de Adler e sua psicologia baseado no princípio do poder para também se afastar e seguir seu próprio caminho e pesquisas. Em dezembro de 1941 casou-se com Tilly Grosse. No outono de 1942, juntamente com sua esposa e pais é deportado para o campo de concentração de Theresienstadt. Em 1944 é transferido para Auschwitz e posteriormente para o campo de Kaufering e Türkheim anexos à Dachau. É libertado em 1945, porém sua esposa e pais são assasinados nos campos de concentração. Em 1945 publica sua obra-prima "Em busca de sentido - Um psicólogo no campo de concentração", traduzido em mais de 24 idiomas e com mais de 10 milhões de unidades vendidas, na qual faz primeiramente um relato autobiográfico dos anos nos campos de extermínio e na segunda parte do livro faz uma introdução a sua teoria chamada de Logoterapia, considerada a terceira escola de Viena (sendo a de Freud e a de Adler respectivamente a primeira e segunda escolas). Vale lembrar que perdeu todos os manuscritos de sua obra nos campos, de forma que após a libertação re-escreveu todo seu conteúdo. Em resumo, ele observa de perto sua teoria na prática. O que levava homens forte, saudáveis, com boas roupas, calçados muitas vezes recém chegados aos campos tombarem em questões de semanas, à vezes dias; enquanto que muitos que já pareciam condenados à morte por desnutrição, esquálidos, doentes, em farrapos, com prognósticos péssimos sobreviverem por meses ou anos a toda está experiência? Em linhas gerais ele considera que num estado de desnutrição extrema, onde a sobrevivência é posta à prova a cada minuto, reduzidos à coisa, não há como se considerar qualquer libido que sustente o princípio do prazer. Por outro lado, como prisioneiros expostos às mais degradantes experiências, sem qualquer possibilidade de opor resistência seja do ponto de vista físico ou psicológico,em verdadeiro desamparo aprendido, considerar a sobrevivência sobre o prisma do princípio do poder também está fora de questão. Frankl demonstra prática e teoricamente que o que sustenta a sobrevivência ou não é a busca de sentido. É a capacidade humana de transcender a dor, e atribuir um sentido ao sofrimento. Vive ele todos os anos no campo de concentração, dando sentido a sua existência através da dedicação ao que a vida esperava dele, através do cuidados físico, emocional e espiritual aos seus pares. Deveria ser leitura obrigatória em qualquer faculdade de psicologia que se pretende séria. Sua palavras permanecem atuais mais de meio século passado: “O vazio existencial é um fenômeno muito difundido no século XX. Isto é conpreensível; pode ser atribuído a uma dupla perda sofrida pelo ser humano desde que se tornou um ser verdadeiramente humano. No ínicio da história, o Homem foi perdendo alguns instintos animas básicos que regulam o comportamento do animal e asseguram sua existência. …. Acresce-se ainda que o ser humano sofreu mais outra perda em seu desenvolvimento mais recente. As tradições, que serviam de apoio para seu comportamento, atualmente vêm diminuindo com grande rapidez. Nenhum instinto lhe diz o que deve fazer e não há tradição que lhe diga o que ele deveria fazer. Em vez disso, ele deseja fazer o que os outros fazem (conformismo), ou ele faz o que outras pessoas querem que ele faça (totalitarismo).

 Apesar de se considerar um anão que se apoiou nos ombros de um gigante, referindo-se à Freud, não é exagero o considerar um verdadeiro gigante. Um verdadeiro Humanista, não no sentido da boçalidade daqueles que amam a categoria "humana" mas desprezam o humano, mas sim daquele que oferece verdadeira empatia e amor pelo humano em cada um de nós.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Empresas Familiares e famílias: como harmonizar o ambiente prevenindo ou mediando conflitos

As estatísticas apontam para o fato de que mais de 80% das empresas são familiares, no entanto, menos de 15% delas sobrevivem à segunda geração. Percebe-se que há um duplo desafio para estas famílias que convivem em dupla jornada. Por um lado, enfrentam todas as vicissitudes e dificuldades de uma vida familiar, enquanto enfrentam estes mesmos problemas num empreendimento em que convivem entre si, além dos colaboradores, clientes e fornecedores. A família pode ser conceituada como um grupo social unido por vínculos biológicos ou legais, com identidade e história própria. Mas muito mais do que isto, a família é o espaço no qual as identidades são forjadas, e as dinâmicas inter-pessoais vão se moldando de acordo a interação entre seus componentes. Os padrões de comunicação, as alianças (explícitas ou tácitas), as diferenças, os objetivos em comum, os conflitos, os valores se estabelecem, tendo como pano de fundo matizes de sentimentos que se interpenetram. Por sua vez a empresa familiar nasce, via de regra, de um sonho, somado ao trabalho árduo e perseverança de seu(s) fundador(a)(es). A força motriz desta realização é fundamentada por ideais, valores, objetivos. A relação entre criador e criatura é permeada por um vínculo muito mais do que profissional, mas afetivo. O sucesso da empresa familiar é a concretização de um ideal. Mas assim como a empresa se desenvolve, a família também segue este movimento. Assim, empresa e família passam por ciclos, nos quais, não necessariamente, o sucesso profissional da empresa familiar coincide com uma dinâmica familiar harmônica e saudável, e vice-versa. Mas geralmente, famílias em que as relações são positivas, a comunicação é assertiva e, tanto a identidade dos familiares como da própria família vivem em equilíbrio, muito provavelmente haverá o reflexo no ambiente profissional. Não raro, problemas na empresa repercutem na família, ou o contrário também pode ocorrer, de maneira que a fronteira entre os assuntos pessoais e profissionais fica extremamente indefinida. Porém, se é bem verdade que, independentemente da gravidade da crise, ou cronicidade dos problemas familiares não sejam suficientes para que a família acabe, o mesmo não ocorre com a empresa. O sonho do(a) fundador(a) corre o risco de ruir. Os colaboradores tendem a se desligar ou render menos num ambiente em que as lideranças vivem em pé de guerra; os fornecedores podem encerrar as relações se a qualidade da relação se deteriorar; e principalmente, o mercado continua sua seleção natural, na qual as empresas melhor preparadas têm mais chances de sobreviver e crescer. Enquanto os conflitos corroem a empresa e as relações familiares, o mercado segue implacável. Muitas vezes quando não há mais tempo, se a empresa não cerra suas portas, os conflitos acabam chegando à esfera judicial, que representa sempre uma medida drástica, fonte de desgaste emocional, financeiro, temporal muitos vezes irreversível. Neste ponto, com ou sem empresa as relações se deterioram de maneira irremediável. Este quadro ocorre principalmente numa cultura adversarial na qual para um ganhar o outro tem que perder. É neste enquadre que a mediação ou prevenção de conflitos e o planejamento sucessório representam um novo paradigma de intervenção. Os conflitos inter ou intra-geracionais, latentes ou deflagrados, podem ser abordados de uma maneira em que o objetivo é a co-construção de uma solução que proporcione ganhos compartilhados. Mas, principalmente, o objetivo é o desenvolvimento de relações mais saudáveis através de uma comunicação não violenta. A solução, mais do que comtemplar os envolvidos, preserva os vínculos afetivos em bases mais maduras. Estas ferramentas são utilizadas por profissionais devidamente capacitados para atuarem em mediações de conflitos de natureza familiar e societária. É frequente equipes multidisciplinares oferecerem este trabalho, pois são aptos a atender a gama de demandas de uma empresa familiar. Daniel Rothenberg é advogado, bacharel em psicologia e mediador. www.danielrothenberg.com.br Dado Salem é economista, mestre em psicologia clínica e mediador. www.psiconomia.com.br