sexta-feira, 10 de maio de 2013
Empresas Familiares e famílias: como harmonizar o ambiente prevenindo ou mediando conflitos
As estatísticas apontam para o fato de que mais de 80% das empresas são familiares, no entanto, menos de 15% delas sobrevivem à segunda geração. Percebe-se que há um duplo desafio para estas famílias que convivem em dupla jornada. Por um lado, enfrentam todas as vicissitudes e dificuldades de uma vida familiar, enquanto enfrentam estes mesmos problemas num empreendimento em que convivem entre si, além dos colaboradores, clientes e fornecedores.
A família pode ser conceituada como um grupo social unido por vínculos biológicos ou legais, com identidade e história própria. Mas muito mais do que isto, a família é o espaço no qual as identidades são forjadas, e as dinâmicas inter-pessoais vão se moldando de acordo a interação entre seus componentes. Os padrões de comunicação, as alianças (explícitas ou tácitas), as diferenças, os objetivos em comum, os conflitos, os valores se estabelecem, tendo como pano de fundo matizes de sentimentos que se interpenetram.
Por sua vez a empresa familiar nasce, via de regra, de um sonho, somado ao trabalho árduo e perseverança de seu(s) fundador(a)(es). A força motriz desta realização é fundamentada por ideais, valores, objetivos. A relação entre criador e criatura é permeada por um vínculo muito mais do que profissional, mas afetivo. O sucesso da empresa familiar é a concretização de um ideal.
Mas assim como a empresa se desenvolve, a família também segue este movimento. Assim, empresa e família passam por ciclos, nos quais, não necessariamente, o sucesso profissional da empresa familiar coincide com uma dinâmica familiar harmônica e saudável, e vice-versa. Mas geralmente, famílias em que as relações são positivas, a comunicação é assertiva e, tanto a identidade dos familiares como da própria família vivem em equilíbrio, muito provavelmente haverá o reflexo no ambiente profissional.
Não raro, problemas na empresa repercutem na família, ou o contrário também pode ocorrer, de maneira que a fronteira entre os assuntos pessoais e profissionais fica extremamente indefinida. Porém, se é bem verdade que, independentemente da gravidade da crise, ou cronicidade dos problemas familiares não sejam suficientes para que a família acabe, o mesmo não ocorre com a empresa. O sonho do(a) fundador(a) corre o risco de ruir. Os colaboradores tendem a se desligar ou render menos num ambiente em que as lideranças vivem em pé de guerra; os fornecedores podem encerrar as relações se a qualidade da relação se deteriorar; e principalmente, o mercado continua sua seleção natural, na qual as empresas melhor preparadas têm mais chances de sobreviver e crescer.
Enquanto os conflitos corroem a empresa e as relações familiares, o mercado segue implacável. Muitas vezes quando não há mais tempo, se a empresa não cerra suas portas, os conflitos acabam chegando à esfera judicial, que representa sempre uma medida drástica, fonte de desgaste emocional, financeiro, temporal muitos vezes irreversível. Neste ponto, com ou sem empresa as relações se deterioram de maneira irremediável.
Este quadro ocorre principalmente numa cultura adversarial na qual para um ganhar o outro tem que perder. É neste enquadre que a mediação ou prevenção de conflitos e o planejamento sucessório representam um novo paradigma de intervenção.
Os conflitos inter ou intra-geracionais, latentes ou deflagrados, podem ser abordados de uma maneira em que o objetivo é a co-construção de uma solução que proporcione ganhos compartilhados. Mas, principalmente, o objetivo é o desenvolvimento de relações mais saudáveis através de uma comunicação não violenta. A solução, mais do que comtemplar os envolvidos, preserva os vínculos afetivos em bases mais maduras.
Estas ferramentas são utilizadas por profissionais devidamente capacitados para atuarem em mediações de conflitos de natureza familiar e societária. É frequente equipes multidisciplinares oferecerem este trabalho, pois são aptos a atender a gama de demandas de uma empresa familiar.
Daniel Rothenberg é advogado, bacharel em psicologia e mediador. www.danielrothenberg.com.br
Dado Salem é economista, mestre em psicologia clínica e mediador. www.psiconomia.com.br
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