Amor é uma daquelas palavras que facilmente podem se distanciar do seu significado. Obviamente que não raro somos sinceros ao usa-lá, mas também não raro a usamos de maneira rasa, leviana, impulsiva, infantil. Ainda, é daquelas palavras que pode refletir um ideal artístico ou pessoal, um conceito teórico ou pseudo-espiritual, mas nem por isto é garantia de ser sentido, vivido, experimentado.
E por falar em palavras, em português a palavra amor pode ser usada para um sorvete gostoso, para expressar reverência por um D-us, podendo passar por pessoas, animais ou ídolos. Para os gregos há várias palavras para amor: Eros significa o amor carnal, físico que geralmente é manifestado pela vontade de possuir alguém, tê-la para si; Storge é a palavra que designa o amor de família baseado num vínculo de intimidade que resulta em lealdade; Filia é a palavra que mais se assemelha ao uso atual da palavra amor, no sentido de termos sentimentos calorosos, afeição por algo ou alguém. Muitas vezes também usado para expressar o amor entre amigos; e por último Ágape, que seria a manifestação de um amor desapegado, elevado. É considerado um ato de vontade, um ato de liberdade no sentido de se fazer o melhor para o que ou quem se ama. Resumindo, Eros é glândual, Storge é genética, Filia é emoção e Ágape é liberdade.
O conceito pode ser compreendido, o que não quer dizer que amor aprende-se por cartilha, manual, aula ou osmose. Amor apreende-se, é sentido. Mas tampouco sentido de uma forma sensorial, ou melhor, somente sensorial. Mas sente-se com corpo, mente, alma, intuição. É daquelas coisas que simplesmente acontecem, e quando acontecem nós sabemos o que é. Então? Qual a necessidade de instrutor, mestre, guru para nos “iluminar” com sua receita de bolo de amor?
É impressionante como facilmente nos deixamos cair nesta armadilha de esperar que alguém nos diga o que e como fazer, quando a maior benção que recebemos é a liberdade para fazermos escolhas, e, infelizmente, não tão visto nestes dias, assumirmos as consequências destas escolhas. Às vezes suspeito que, quando queremos seguir uma receita é para que, em caso de erro possamos culpar quem nos orientou.
Escrevendo este texto surgiu muito forte a lembrança do que Krishnamurti falava sobre meditação. Ele dizia que quando falamos que estamos meditando, isto não é meditação. Quando fazemos uma prática de meditação... isto não é meditação. Meditação é um estado, espontâneo e natural que nos conecta com o presente, com a vida. E assim é o amor. Encenado, declamado, falado, conceituado, nada compara-se a vivenciá-lo. Como? Simplesmente viver. Por mais conotação religiosa que possa ter, a palavra comunhão é perfeita para ilustrar. Estar em comunhão consigo e com o ambiente. Sentir-se conectado, fluindo com o presente. O passado é morto, o futuro é especulação fantasiosa. É simples, mas não necessariamente fácil entregar-se e aceitar a força da vida, não de maneira conformista, mas sim de coração aberto.
E por falar em coração aberto, quando será que começamos a fechá-lo? Quantas marcas e traumas nossa essência precisa para que desenvolvamos uma couraça chamada personalidade, para escondermos o que temos de mais precioso? Pode soar piegas, eu sei. Mas por que temos tanto medo, e este medo aumenta conforme o tempo escorre, de nos mostrar como realmente somos? Por que algum momento, começamos até a esquecer que verdadeiramente somos. Tenho me perguntado com frequência, assim com às pessoas em situação de conflito ou angústia: “o que eu (você) de fato preciso(a)?”. Esta pergunta pode ser libertadora. Será que temos claro o que precisamos? Mas mais importante, será que somos claros com os outros, em especial com nossos círculos íntimos, sobre o que precisamos, queremos e esperamos? Lentamente comecei a me dar conta que preciso de coisas que não imaginava, e que posso dispensar várias que imaginava precisar. Mas, melhor ainda, que a maior parte do que eu preciso eu já tenho.
Guardo com carinho os momentos em que senti esta conexão, segundos ou minutos que deram a sensação de que o tempo havia parado, tudo fazia sentido e estava conectado e nada precisava ser explicado. Quando eu tentava capturar de alguma forma este momento... foi-se! Escapou pelos dedos e permaneceu o gosto. Assim cada vez mais me parece o amor. Tentar captura-lo, racionalizá-lo? Esqueça! Esvaiu-se!
Assim, cada dia suporto menos quem tem receita pronta! Cada um sabe o que precisa. E se não sabe, não será o outro que deve saber. Cada um pode e deve cuidar dos seus assuntos. E sim, por mais terrível que isto possa soar para alguns ouvidos politicamente corretos, acho que devemos ser egoístas em relação ao amor (e outras coisas também). Devemos olhar pelo que é nosso, do que nos faz bem, do que nos nutre. Se isto significa ser altruísta, pois bem! Seja egoisticamente altruísta. Simplesmente por que é bom para você, e não por que alguém falou que isto é certo, D-us vai gostar ou que é bom para seu Karma. Cuide do que é seu (olhando onde está o pé, ou melhor, calos dos outros), esta é a nossa responsabilidade.
(Sim minha querida amiga, estou gostando do desafio de escrever num estilo menos acadêmico! Com coração aberto fica fácil).
p.s.: este foi o primeiro artigo que escrevi, respondendo a um convite que recebi para colaborar com o Instituto do Amor.
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Amor apreende-se. Muito bom!
ResponderExcluirAll we need is love,
Patricia Costa ;o)