sábado, 11 de junho de 2011

Mega-sena e felicidade

Ouvi numa conversa de bar (que se deu num restaurante), uma namorada dando um esporro (para além do possível significado chulo, adoro a sonoridade da palavra) no pobre(?) namorado, pois ele, na visão dela, deveria fazê-la mais feliz. Confesso que me esforcei para manter a cara de paisagem, mas internamente sentia um misto de graça e inquietude com tal colocação.

Para além de possíveis hipóteses clínicas, meditei acerca da idéia em si. Sua fala trazia um desejo expresso na forma de um comando de algo idealizado, pois ele “deveria fazê-la”. Aqui já começa o enrosco, pois o desejo é dela, mas o dever é dele, ou em outras palavras, deveria ele então ser o servo dos desejos dela? Obviamente que, como compartilhávamos a mesa, refeição e a conversa, não pude deixar de, obviamente provocativamente, lhe perguntar o que será que ela então deveria fazer para que ele também fosse feliz.

Outro ângulo é considerar a responsabilidade, para não dizer o peso que ela pretende que ele carregue, e por isto a referência à sua pobreza no primeiro parágrafo. Convenhamos! Se lá fosse algo mais concreto como “quero acordar todos os dias com você me trazendo café na cama”, ou “você deve todas as noites me presentear com flores” etc. Mas não. ela simplesmente quer a felicidade, aquela coisa pouco subjetiva que pode significar desde uma gota d’água até um passeio num ônibus espacial. Se há algo que não podemos dizer é que nossa amiga não é ambiciosa. Mais do que ser feliz, ela julga que o namorado é o responsável por tal empreitada.

Brincadeiras à parte fiquei um pouco impressionado com uma perspectiva de felicidade, aparentemente sem graça por insinuar que a felicidade dela é algo estático. Antes fosse extático...

Mas o que mais impressiona é está leviandade, talvez pueril de acreditar que o outro pode ser responsável por algo que cabe somente a nós. Antes que atirem as pedras por conta da minha aparente insensibilidade e egoísmo, minha verdadeira falta de altruísmo e desapego, digo que no limite acredito que o outro (no sentido de tudo aquilo que não sou eu) possa contribuir com a minha percepção de felicidade. Neste caso considero sim que, entre outras coisas, a felicidade tem um protagonista e infinitas possibilidades de coadjuvantes. Até acredito em co-protagonismo. Mas acho que transferir ao outro esta responsabilidade é a mesma coisa que jogar na mega-sena esperando ter como prêmio a felicidade.

(No fundo não acho que ele seja um coitado! Ao contrário, por algum motivo e por escolha ele aceita ficar neste lugar).

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Percepção do tempo e comportamento

O psicológo e professor de Stanford Philip G. Zimbardo, desenvolve pesquisas relativas às formas como percebemos o tempo e suas possíveis implicações quanto aos nossos comportamentos e escolhas morais, ideológicas e éticas.
O vídeo abaixo resume suas idéias:

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Do valor simbólico do Dinheiro

Eu não estou interessado em dinheiro, mas nas coisas que o dinheiro é o símbolo. (Henry Ford)

Nas últimas semanas ocorreram duas situações que me remeteram a um tema que, ainda que tenha um potencial para ser um vespeiro, sempre me agradou: A relação que temos com o dinheiro. Num almoço com amigos, um deles Calvinista, falava sobre a diferença básica entre estes e os luteranos, passando pelos católicos em relação ao dinheiro. Em linhas gerais, uma das características do Calvinismo é libertar as pessoas de qualquer sentimento de culpa relacionada a ganhar dinheiro. Obviamente que ainda assim, o ganhar dinheiro é impregnado de contornos de ética e moral muito bem delimitados (assim evitamos que, erroneamente, os mais afoitos identifiquem aqui as origens do capitalismo dito selvagem).

A outra situação refere-se a uma amiga que não consegue guardar dinheiro, como se fosse algo impuro ou errado. Inconscientemente, torra tudo que ganha, mas revela nas entrelinhas da sua fala que dinheiro simboliza algo negativo.

Por falar em símbolo, o significado da palavra deriva do grego symbállo , “coloco junto”. Na Grécia antiga era um costume partir algum objeto como uma moeda ou anel e oferecer a metade a um amigo. Conservadas ao longo do tempo permitiam que os descendentes se reconhecessem. Ou seja, as duas metades reunidas recompondo o objeto original conferiam o significado original.

Mas e o dinheiro?, infelizmente mal compreendido como vil metal. De uma maneira muita simples é uma convenção entre pessoas ou entes que lhe atribuem um valor comum para poderem efetuar trocar de produtos ou serviços. Pois bem! O dinheiro (a) tem seu valor atribuído por mútuo acordo (sempre podemos recusar ou aceitar uma oferta), e (b) é usado para permitir que pessoas troquem coisas entre si.

Bom, se há um valor de face, parece razoável que exista um valor percebido, que não necessariamente corresponde àquele. Receber ou ganhar dinheiro então, significa que um valor é atribuído ao nosso trabalho. Ocorre que muitas vezes, inconscientemente não nos sentimos merecedores daquilo. Como se não fossêmos dignos do dinheiro que nos é dado. É comum, principalmente na cultura ocidental considerar o ganho como alguma espécie de pecado, sinal de exploração. Ou, como se a busca por conforto material fosse algo desprezível ou sem valor. Mas o problema é do dinheiro ou é do valor que a ele atribuímos?

É curioso como as pessoas indignam-se com aqueles que misturam dinheiro com qualquer espécie de sentimento positivo. Se um pai dá presentes aos filhos, a patrulha já logo sai a dizer que o faz motivado pela culpa em não oferecer afeto; se a mulher casa com um homem mais rico, os patrulheiros já dão a sentença: “não passa de uma pilantra, interesseira!”. Será que é isto mesmo? Obviamente que todos nós sempre sabemos a fórmula ideal... geralmente para o outro, mesmo que para nós mesmos não funcione lá muito bem. O pai deve dar afeto, dar conforto, dar carinho, enfim, ser um herói. Mas como todo humano, ele também tem lá suas questões, limites e dificuldades. E se o presente, comprado com dinheiro, é o símbolo do afeto? Mas lá vem novamente os técnicos do afeto: “isto é mercantilizar os sentimentos!”. Convenhamos, se o dinheiro é usado como uma forma de veicular um afeto não literal, e, se o destinatário o aceita de bom grado, o que está errado? Se as duas metades da moeda juntas fazem os dois lados reconhecerem o significado em comum, onde está o mal? E o mesmo aplica-se à nossa interesseira! Se há dois adultos que, na sua expressão de vontade livre e autônoma resolvem permutar dinheiro por afeto, quem pode dizer que há algo errado? Se não há sofrimento psíquico envolvido, por que deveríamos reprovar o comportamento. Sem dizer que afeto é muito mais sobre o que o outro pode oferecer do que necessariamente aquilo que exigimos. E a oferta pode ser afetuosa através de uma escuta, de uma ajuda para fazer um trabalho, um auxílio prático, o pagamento de alguma coisa, um telefonema... o céu é o limite. A questão é se temos maturidade para aceitar o que nos é dado.

O dinheiro em si não é nada. Seja o valor de face, seja o valor percebido isto é algo que nós atribuímos social, cultural e individualmente. Assim, ganho ou conquistado, por labuta ou presente, decida você o valor que ele merece. Seja benéfico ou pernicioso, positivo ou deletério é você que tem o poder de criar uma crença ou a destruí-la em relação a um pedaço de papel. E vamos combinar!, se não existisse o dinheiro, em suma seria tudo igual, com um dose adicional de dificuldade: Como padronizaríamos os valores de troca entre produtos e objetos?: “Minhas dez galinhas valem metade do seu carneiro! Parta-o ao meio, assim poderemos fazer negócio!”. Ou seja, não deixaríamos nossa “humanidade” de lado por conta da ausência de dinheiro. É justamente a nossa humanidade quem determina o significado que damos ao dinheiro, e não ele que define nossa natureza. É um erro de lógica considerar que o dinheiro pode ser a matriz de nossa identidade.

Vale lembrar que o desejo, manifesto, latente ou reprimido é que norteia a forma que atribuímos valor às coisas. Mais interessante investigarmos quais nossas motivações e desejos por trás de nossos julgamentos. O que emerge das nossas opiniões? Qual a finalidade daquilo que acreditamos? O que queremos camuflar ou evitar contato ao adotar uma posição moral?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

PÁSCOA: UMA JORNADA PESSOAL

Esta semana duas das três maiores religiões monoteístas celebram a páscoa. Cada uma a seu modo, mas ainda assim guardando muitas semelhanças e paralelos, mesmo por que, o que foi a última ceia senão a celebração de Pesach (páscoa judaica)?

Interessante que em inglês Pesach significa atravessar. Num sentido literal podemos identificar naquele contexto histórico, o atravessar como a passagem de um estado de escravidão para a liberdade, a passagem da terra da escravidão para a terra prometida, ou ainda a travessia pelo rio vermelho quando Moisés teria separado as águas.

Num sentido menos literal e mais psicológico, podemos dizer que a Páscoa celebra a nossa possibilidade de atravessar de uma condição para outra, de um estado para outro. Obviamente que isto não ocorre de maneira automática, mas requer trabalho. O povo judeu levou quarenta anos vagando pelo deserto preparando-se para ingressar na terra prometida (lembrando que em hebraico a palavra para Egito é mitzraim que significa estreito). Explica-se que Moisés assim conduziu o povo, pois da escravidão (que física, mental ou espiritualmente remete a um sentido de estreiteza), para a terra prometida havia necessidade de somente se permitir que uma nova geração desse ínicio a uma nação. Assim, ninguém que havia vivido como escravo levaria qualquer réstia desta condição para a terra santa, inclusive Moisés, que a viu mas não a pisou, falecendo na véspera.

Se um povo leva quarenta anos para a travessia de uma condição a outra, quanto tempo levamos para nossa jornada individual? O que nos impede de atravessarmos de um polo ao outro?

Penso que a Páscoa é um convite para que avancemos um pouco mais. Idealmente, podemos nos fazer este convite diariamente. Acredito sinceramente que possuímos todas as ferramentas necessárias para empreender esta passagem: consciência, razão, emoção, percepção, capacidade de observação ( de si e do outro), crítica, sentimento. Mas sobretudo, a possibilidade do encontro, consigo e com o outro. É esta comunhão consigo e com o outro que nos permite a conexão com o transcendente.

Uma boa passagem para todos!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Encobrindo nossos próprios comportamentos

Recentemente testemunhei duas situações em que uma das partes renunciava à possibilidade de manter relação. Mas mais do que isto, o que as situações também tem de semelhança é (1) a alegada falta de compreensão do que sentiam e sua impossibilidade de expressão, pois reconheciam que sua conduta parecia irracional ou ilógica e/ou (2) a dificuldade ou evitação dos estabelecimento de um canal de comunicação.

Escrevo “e/ou” pois (1) eventualmente pode ser a manifestação pública de (2). Fazendo um paralelo, como bem conceituado pelos behavioristas, há aqueles comportamentos considerados encobertos, pois não são observáveis ou observados em público, mas são do conhecimento que quem os emite. Ou seja, (1) pode ser usado para encobrir a real motivação (2). Neste caso, por motivos que poderíamos somente especular, as pessoas desistem da comunicação, o que aparentemente é cada vez mais comum. Um parênteses, outro dia, e não me recordo qual era o articulista, lia no jornal que cada vez mais torna-se rara a possibilidade de uma conversa sem que as pessoas simplesmente coloquem sua opinião baseada num “achismo” raso e pulem de assunto em assunto, ou bem transformam o colóquio numa guerra santa de posições.

Mas (1) é a opção mais instigante pois aponta para um indivíduo que percebe a sua própria incapacidade de perceber-se, o que é um aparente paradoxo, pois parece já possuir consciência. Mas é aparente, pois não necessariamente isto lhe garante a possibilidade de compreender seus “drivers” comportamentais.

Uma das hipóteses foi pesquisada por Drew Westen e outros colaboradores num estudo que comprova "materialmente" a importância das motivações afetivas e emocionais em nossos pensamentos ("Journal of Cognitive Neuroscience" 18:11, 2006). Nada que as teorias sobre afeto não tenham abordado de formas diversas. Segundo Guimarães (Guimarães, F.S. Distúrbios Afetivos. In: Graeff & Brandão, Neurobiologia das Doenças Mentais, Lemos Editorial & Gráficos Ltda, 1993) “todo ser humano apresenta flutuações de afeto em resposta a eventos de sua vida cotidiana. Em algumas pessoas, no entanto estas respostas assumem um caráter inadequado em termos de serenidade, persistência ou circunstâncias desencadeadoras, caracterizando, assim a ocorrência de um distúrbio afetivo. Parece possível afirmar que, a depender da intensidade e qualidade dos nossos afetos e emoções nossos pensamentos ficam absolutamente comprometidos a ponto de nos sentirmos alheios ou estranhos a eles próprios. Favoretto (O Afeto em Psicossomática; 2002) esclarece: “Pode-se chegar à conclusão que o afeto é uma das bases mais concretas que o indivíduo conhece desde o início de sua vida, se esta emoção não for bem solidificada e compreendida de uma maneira positiva e integrada num fator sociocultural dentro dos padrões normais, haverá que interferirão no seu psiquismo apresentando modificações patológicas (transtornos mentais ou doenças psicossomáticas) e até desencadeando problemas comportamentais, causando, assim um sofrimento psíquico para o próprio indivíduo. Ele terá, portanto, dificuldades de interagir com o meio e ás vezes com si mesmo.”

É quase um comportamento esquizóide, pois você não reconhece o seu próprio comportamento, ou melhor, as razões de comportar-se de tal maneira. No limite é como seu houvesse dois “eus”, um que pensa e outro que age de maneira não coordenada e independente. Gosto do exemplo de Eckhart Tolle ( O Poder do Agora, Sextante, 2002): “... Um profundo anseio de destruição, de deixar de existir, tinha tomado conta de mim, tornando-se até mais forte do que o desejo instintivo de viver. “Não posso mais viver comigo”, pensei. Então, de repente, tomei consciência de como aquele pensamento era peculiar. “Eu sou um ou sou dois?”. Se eu não consigo mais viver comigo, deve haver dois de mim: o ‘eu’ e o ‘eu interior’, com que o ‘eu’ não consegue mais conviver. “Talvez”, pensei, “só um dos dois seja real.” O grande desafio é viver em harmonia com o Eu, mas o autêntico!

sexta-feira, 11 de março de 2011

“Lições” de amor: quem precisa?

Amor é uma daquelas palavras que facilmente podem se distanciar do seu significado. Obviamente que não raro somos sinceros ao usa-lá, mas também não raro a usamos de maneira rasa, leviana, impulsiva, infantil. Ainda, é daquelas palavras que pode refletir um ideal artístico ou pessoal, um conceito teórico ou pseudo-espiritual, mas nem por isto é garantia de ser sentido, vivido, experimentado.

E por falar em palavras, em português a palavra amor pode ser usada para um sorvete gostoso, para expressar reverência por um D-us, podendo passar por pessoas, animais ou ídolos. Para os gregos há várias palavras para amor: Eros significa o amor carnal, físico que geralmente é manifestado pela vontade de possuir alguém, tê-la para si; Storge é a palavra que designa o amor de família baseado num vínculo de intimidade que resulta em lealdade; Filia é a palavra que mais se assemelha ao uso atual da palavra amor, no sentido de termos sentimentos calorosos, afeição por algo ou alguém. Muitas vezes também usado para expressar o amor entre amigos; e por último Ágape, que seria a manifestação de um amor desapegado, elevado. É considerado um ato de vontade, um ato de liberdade no sentido de se fazer o melhor para o que ou quem se ama. Resumindo, Eros é glândual, Storge é genética, Filia é emoção e Ágape é liberdade.

O conceito pode ser compreendido, o que não quer dizer que amor aprende-se por cartilha, manual, aula ou osmose. Amor apreende-se, é sentido. Mas tampouco sentido de uma forma sensorial, ou melhor, somente sensorial. Mas sente-se com corpo, mente, alma, intuição. É daquelas coisas que simplesmente acontecem, e quando acontecem nós sabemos o que é. Então? Qual a necessidade de instrutor, mestre, guru para nos “iluminar” com sua receita de bolo de amor?

É impressionante como facilmente nos deixamos cair nesta armadilha de esperar que alguém nos diga o que e como fazer, quando a maior benção que recebemos é a liberdade para fazermos escolhas, e, infelizmente, não tão visto nestes dias, assumirmos as consequências destas escolhas. Às vezes suspeito que, quando queremos seguir uma receita é para que, em caso de erro possamos culpar quem nos orientou.

Escrevendo este texto surgiu muito forte a lembrança do que Krishnamurti falava sobre meditação. Ele dizia que quando falamos que estamos meditando, isto não é meditação. Quando fazemos uma prática de meditação... isto não é meditação. Meditação é um estado, espontâneo e natural que nos conecta com o presente, com a vida. E assim é o amor. Encenado, declamado, falado, conceituado, nada compara-se a vivenciá-lo. Como? Simplesmente viver. Por mais conotação religiosa que possa ter, a palavra comunhão é perfeita para ilustrar. Estar em comunhão consigo e com o ambiente. Sentir-se conectado, fluindo com o presente. O passado é morto, o futuro é especulação fantasiosa. É simples, mas não necessariamente fácil entregar-se e aceitar a força da vida, não de maneira conformista, mas sim de coração aberto.

E por falar em coração aberto, quando será que começamos a fechá-lo? Quantas marcas e traumas nossa essência precisa para que desenvolvamos uma couraça chamada personalidade, para escondermos o que temos de mais precioso? Pode soar piegas, eu sei. Mas por que temos tanto medo, e este medo aumenta conforme o tempo escorre, de nos mostrar como realmente somos? Por que algum momento, começamos até a esquecer que verdadeiramente somos. Tenho me perguntado com frequência, assim com às pessoas em situação de conflito ou angústia: “o que eu (você) de fato preciso(a)?”. Esta pergunta pode ser libertadora. Será que temos claro o que precisamos? Mas mais importante, será que somos claros com os outros, em especial com nossos círculos íntimos, sobre o que precisamos, queremos e esperamos? Lentamente comecei a me dar conta que preciso de coisas que não imaginava, e que posso dispensar várias que imaginava precisar. Mas, melhor ainda, que a maior parte do que eu preciso eu já tenho.

Guardo com carinho os momentos em que senti esta conexão, segundos ou minutos que deram a sensação de que o tempo havia parado, tudo fazia sentido e estava conectado e nada precisava ser explicado. Quando eu tentava capturar de alguma forma este momento... foi-se! Escapou pelos dedos e permaneceu o gosto. Assim cada vez mais me parece o amor. Tentar captura-lo, racionalizá-lo? Esqueça! Esvaiu-se!

Assim, cada dia suporto menos quem tem receita pronta! Cada um sabe o que precisa. E se não sabe, não será o outro que deve saber. Cada um pode e deve cuidar dos seus assuntos. E sim, por mais terrível que isto possa soar para alguns ouvidos politicamente corretos, acho que devemos ser egoístas em relação ao amor (e outras coisas também). Devemos olhar pelo que é nosso, do que nos faz bem, do que nos nutre. Se isto significa ser altruísta, pois bem! Seja egoisticamente altruísta. Simplesmente por que é bom para você, e não por que alguém falou que isto é certo, D-us vai gostar ou que é bom para seu Karma. Cuide do que é seu (olhando onde está o pé, ou melhor, calos dos outros), esta é a nossa responsabilidade.

(Sim minha querida amiga, estou gostando do desafio de escrever num estilo menos acadêmico! Com coração aberto fica fácil).

p.s.: este foi o primeiro artigo que escrevi, respondendo a um convite que recebi para colaborar com o Instituto do Amor.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Mini Curso: Uma análise junguiana do mito de Eros e Psiqué



Fica a dica do curso que ocorrerá na Livraria da Vila da Fradique.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um prato cheio para quem gosta de arte

Há certas coisas que considero que são Ferraris que pilotamos como Fuscas. O Google é uma delas. Recentemente descobri o Google Art Project que permite que possamos ter acesso à vários museus do mundo. Dá-se de duas formas: há uma galeria com obras selecionadas do museu, e a outra que permite que façamos uma visita virtual pelo museu através de um mecanismo parecido com o google maps.

Fiquei animado, pois numa visita à Florença, visitei a Galeria degli Uffizi e fiquei muito impactado com um conjunto de telas que retratavam virtudes humanas (lembro-me da temperança e serenidade). Enfim, corri para este serviço e mais feliz ainda em descobrir que o Uffizi fazia parte dos museus abrangidos pelo serviço.

No final das contas não achei as telas que procurava, mas foi muito prazeiroso poder passear por lá novamente. Abaixo uma obra de Gherardo delle Notti chamada Adorazione del Bambino. É impressionante o efeito das luzes na tela, irradiando do menino Jesus e refletindo e cada um dos presentes.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Encobrindo nossos próprios comportamentos


Recentemente testemunhei duas situações em que uma das partes renunciava à possibilidade de manter relação. Mas mais do que isto, o que as situações também tem de semelhança é (1) a alegada falta de compreensão do que sentiam e sua impossibilidade de expressão, pois reconheciam que sua conduta parecia irracional ou ilógica e/ou (2) a dificuldade ou evitação dos estabelecimento de um canal de comunicação.

Escrevo “e/ou” pois (1) eventualmente pode ser a manifestação pública de (2). Fazendo um paralelo, como bem conceituado pelos behavioristas, há aqueles comportamentos considerados encobertos, pois não são observáveis ou observados em público, mas são do conhecimento que quem os emite. Ou seja, (1) pode ser usado para encobrir a real motivação (2). Neste caso, por motivos que poderíamos somente especular, as pessoas desistem da comunicação, o que aparentemente é cada vez mais comum. Um parênteses, outro dia, e não me recordo qual era o articulista, lia no jornal que cada vez mais torna-se rara a possibilidade de uma conversa sem que as pessoas simplesmente coloquem sua opinião baseada num “achismo” raso e pulem de assunto em assunto, ou bem transformam o colóquio numa guerra santa de posições.

Mas (1) é a opção mais instigante pois aponta para um indivíduo que percebe a sua própria incapacidade de perceber-se, o que é um aparente paradoxo, pois parece já possuir consciência. Mas é aparente, pois não necessariamente isto lhe garante a possibilidade de compreender seus “drivers” comportamentais.

Uma das hipóteses foi pesquisada por Drew Westen e outros colaboradores num estudo que comprova "materialmente" a importância das motivações afetivas e emocionais em nossos pensamentos ("Journal of Cognitive Neuroscience" 18:11, 2006). Nada que as teorias sobre afeto não tenham abordado de formas diversas. Segundo Guimarães (Guimarães, F.S. Distúrbios Afetivos. In: Graeff & Brandão, Neurobiologia das Doenças Mentais, Lemos Editorial & Gráficos Ltda, 1993) “todo ser humano apresenta flutuações de afeto em resposta a eventos de sua vida cotidiana. Em algumas pessoas, no entanto estas respostas assumem um caráter inadequado em termos de serenidade, persistência ou circunstâncias desencadeadoras, caracterizando, assim a ocorrência de um distúrbio afetivo. Parece possível afirmar que, a depender da intensidade e qualidade dos nossos afetos e emoções nossos pensamentos ficam absolutamente comprometidos a ponto de nos sentirmos alheios ou estranhos a eles próprios. Favoretto (O Afeto em Psicossomática; 2002) esclarece: “Pode-se chegar à conclusão que o afeto é uma das bases mais concretas que o indivíduo conhece desde o início de sua vida, se esta emoção não for bem solidificada e compreendida de uma maneira positiva e integrada num fator sociocultural dentro dos padrões normais, haverá que interferirão no seu psiquismo apresentando modificações patológicas (transtornos mentais ou doenças psicossomáticas) e até desencadeando problemas comportamentais, causando, assim um sofrimento psíquico para o próprio indivíduo. Ele terá, portanto, dificuldades de interagir com o meio e ás vezes com si mesmo.”

É quase um comportamento esquizóide, pois você não reconhece o seu próprio comportamento, ou melhor, as razões de comportar-se de tal maneira. No limite é como seu houvesse dois “eus”, um que pensa e outro que age de maneira não coordenada e independente. Gosto do exemplo de Eckhart Tolle ( O Poder do Agora, Sextante, 2002): “... Um profundo anseio de destruição, de deixar de existir, tinha tomado conta de mim, tornando-se até mais forte do que o desejo instintivo de viver. “Não posso mais viver comigo”, pensei. Então, de repente, tomei consciência de como aquele pensamento era peculiar. “Eu sou um ou sou dois?”. Se eu não consigo mais viver comigo, deve haver dois de mim: o ‘eu’ e o ‘eu interior’, com que o ‘eu’ não consegue mais conviver. “Talvez”, pensei, “só um dos dois seja real.” O grande desafio é viver em harmonia com o Eu, mas o autêntico!


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um toque de humor!


Copyright © Michael Leunig. http://www.leunig.com.au/

Da dificuldade em reconhecer-se

Recentemente testemunhei duas situações em que uma das partes renunciava à possibilidade de manter relação. Mas mais do que isto, o que as situações também tem de semelhança é (1) a alegada falta de compreensão do que sentiam e sua impossibilidade de expressão, pois reconheciam que sua conduta parecia irracional ou ilógica e/ou (2) a dificuldade ou evitação dos estabelecimento de um canal de comunicação.

Escrevo “e/ou” pois (1) eventualmente pode ser a manifestação pública de (2). Fazendo um paralelo, como bem conceituado pelos behavioristas, há aqueles comportamentos considerados encobertos, pois não são observáveis ou observados em público, mas são do conhecimento que quem os emite. Ou seja, (1) pode ser usado para encobrir a real motivação (2). Neste caso, por motivos que poderíamos somente especular, as pessoas desistem da comunicação, o que aparentemente é cada vez mais comum. Um parênteses, outro dia, e não me recordo qual era o articulista, lia no jornal que cada vez mais torna-se rara a possibilidade de uma conversa sem que as pessoas simplesmente coloquem sua opinião baseada num “achismo” raso e pulem de assunto em assunto, ou bem transformam o colóquio numa guerra santa de posições.

Mas (1) é a opção mais instigante pois aponta para um indivíduo que percebe a sua própria incapacidade de perceber-se, o que é um aparente paradoxo, pois parece já possuir consciência. Mas é aparente, pois não necessariamente isto lhe garante a possibilidade de compreender seus “drivers” comportamentais.

Uma das hipóteses foi pesquisada por Drew Westen e outros colaboradores num estudo que comprova "materialmente" a importância das motivações afetivas e emocionais em nossos pensamentos ("Journal of Cognitive Neuroscience" 18:11, 2006). Nada que as teorias sobre afeto não tenham abordado de formas diversas. Segundo Guimarães (Guimarães, F.S. Distúrbios Afetivos. In: Graeff & Brandão, Neurobiologia das Doenças Mentais, Lemos Editorial & Gráficos Ltda, 1993) “todo ser humano apresenta flutuações de afeto em resposta a eventos de sua vida cotidiana. Em algumas pessoas, no entanto estas respostas assumem um caráter inadequado em termos de serenidade, persistência ou circunstâncias desencadeadoras, caracterizando, assim a ocorrência de um distúrbio afetivo. Parece possível afirmar que, a depender da intensidade e qualidade dos nossos afetos e emoções nossos pensamentos ficam absolutamente comprometidos a ponto de nos sentirmos alheios ou estranhos a eles próprios. Favoretto (O Afeto em Psicossomática; 2002) esclarece: “Pode-se chegar à conclusão que o afeto é uma das bases mais concretas que o indivíduo conhece desde o início de sua vida, se esta emoção não for bem solidificada e compreendida de uma maneira positiva e integrada num fator sociocultural dentro dos padrões normais, haverá que interferirão no seu psiquismo apresentando modificações patológicas (transtornos mentais ou doenças psicossomáticas) e até desencadeando problemas comportamentais, causando, assim um sofrimento psíquico para o próprio indivíduo. Ele terá, portanto, dificuldades de interagir com o meio e ás vezes com si mesmo.”

É quase um comportamento esquizóide, pois você não reconhece o seu próprio comportamento, ou melhor, as razões de comportar-se de tal maneira. No limite é como seu houvesse dois “eus”, um que pensa e outro que age de maneira não coordenada e independente. Gosto do exemplo de Eckhart Tolle ( O Poder do Agora, Sextante, 2002): “... Um profundo anseio de destruição, de deixar de existir, tinha tomado conta de mim, tornando-se até mais forte do que o desejo instintivo de viver. “Não posso mais viver comigo”, pensei. Então, de repente, tomei consciência de como aquele pensamento era peculiar. “Eu sou um ou sou dois?”. Se eu não consigo mais viver comigo, deve haver dois de mim: o ‘eu’ e o ‘eu interior’, com que o ‘eu’ não consegue mais conviver. “Talvez”, pensei, “só um dos dois seja real.” O grande desafio é viver em harmonia com o Eu, mas o autêntico!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"Uma Certa Paz"

Ganhei no final do ano de um casal muito especial, o livro "Uma Certa Paz" , de autoria de Amós Oz, que narra a busca do protagonista Ionatan Lifschitz pelo que imaginava ser felicidade. Seu ideal contrasta com uma idéia coletiva própria daquele momento da história, que tinha o Kibutz como ideal de Éden terrestre dos judeus.
Em alguns momentos, o antagonista Azaria Guitlin lembra o protagonista de "O Ajudante" de robert Walser por sua aparente ingenuidade, falas excêntricas, comportamentos bizarros. No geral as personagens são bem construídos e instigam a leitura, mas está longe de ser um livro "gostoso". Ao contrário, causa desconforto, incômodo, angústia. Ou seja, é do amargo que é bom!
Chama muita à atenção o estilo de escrita e forma de pontuação do autor. As personagens tinham suas falas iniciadas no meio da fala do narrador através de uma maiúscula não antecedida por ponto final. Nada que depois de 70 páginas não resolva-se!

Uma das frases que pesquei no livro:

"Um homem é só um homem. E, mesmo assim, só raramente."